Opinião, Paula Craveiro

Descaso com a saúde em São Paulo

Como um transplantado, dependente de medicamentos para evitar a rejeição do órgão recebido, pode explicar para o seu organismo que, excepcionalmente, ele não receberá o remédio necessário naquela semana? “Aguenta aí só uns cinco dias. Depois eu volto a te dar o medicamento. O que são 5, 10, 15 dias na vida de alguém, não é, rim?

O corpo não tem essa compreensão; os órgãos não podem esperar pacientemente enquanto a logística do SUS/Ministério da Saúde se reorganiza e deixa as farmácias dos postos de alto custo sem o estoque necessário para atender às necessidades dos pacientes cadastrados para o recebimento dos medicamentos.

Para os receptores e para sua família, esse é o tipo de situação que não tem o menor cabimento! Depois de enfrentar anos de tratamento, hemodiálise… e, enfim, conseguir um órgão, não tem nada no mundo que justifique a perda dele por causa de erro de logística! O Ministério da Saúde não pode tratar o ser humano como tanto descaso!

Desde o final de setembro – até onde fui informada, mas é possível que esse problema já venha de antes – estão faltando medicamentos essenciais para os pacientes transplantados, como Myfortic 360 mg e Tacrolimo 1 mg. Em contato com a Novartis, laboratório responsável pela fabricação do Myfortic, fui informada de que sua fabricação e distribuição (para governo e farmácias) estão ocorrendo normalmente. Ou seja, a não reposição de estoques não é falha do laboratório. Já em contato com o Ministério da Saúde, por meio de seu perfil no Twitter, recebi a informação de que “o medicamento [Myfortic 360 mg] é adquirido de forma centralizada pelo Ministério da Saúde. No momento [dia 11/10] estão em andamento os processos de distribuição em âmbito estadual e a previsão de abastecimento das Farmácias de Medicamento Especializados [postos de alto custo] é até 14/10/2016”.

Excelente saber que até amanhã, dia 14 de outubro, os medicamentos estarão nas farmácias. Excelente mesmo! Mas o problema causado por esse descaso com a logística pode custar a vida ou, pelo menos, o órgão recebido por muitas pessoas em todo o Estado de São Paulo. Aparentemente, pelo que notei em conversas em grupos de transplantados no Facebook, o problema é restrito a São Paulo. Como pode o estado mais importante (pelo menos em termos econômicos) do País ter esse tipo de problema? Não tem gente qualificada para cuidar da logística dos medicamentos? Ou o problema é desvio de recursos, incompetência…?

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